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O Homem Invisível (2020) – CRÍTICA

O Homem Invisível (2020) – CRÍTICA

Quando a realidade é mais assustadora

Uma das coisas mais complicadas da vida é o relacionamento com outro ser humano. E seja ele de qualquer forma, familiar, amoroso, de amizade, estar com outra pessoa não é uma tarefa tão simples, principalmente quando um dos seres envolvidos pensa que é dono do outro.
Relacionamentos abusivos permeiam a sociedade há anos e nos últimos tempos se tornaram foco de diversas discussões que servem de alerta para atitudes que levem a este tipo de comportamento. Neste caso, mulheres muitas vezes, são os alvos principais.
Desta forma, abordando essa temática real, acrescentando o suspense, o terror e um toque de ficção científica, O Homem Invisível chega aos cinemas entregando uma narrativa onde o que mais assusta é o fato de casos como este acontecerem diariamente. Logicamente não com uma pessoa que consegue ficar imperceptível à olho nu, mas uma metáfora de como a vítima se sente quando relata o que acontece! O agressor desaparece da visão dos demais e fica apenas o agredido tentando comprovar o que sofreu!
A realidade é sempre mais assustadora!
Cecilia finalmente consegue fugir de Adrian, seu abusivo e controlador namorado. Contudo, dias depois o rapaz é encontrado morto, tudo aparenta ser suicídio.
Assim, a jovem passa a dar continuidade a sua vida, até que estranhos acontecimentos fazem com que ela suspeite de que Adrian não esteja morto, mas que de algum modo ele conseguiu ficar invisível, justamente para atormentá-la mais uma vez, trazendo consequências ainda mais terríveis!
Dirigido por Leigh Whannell (Jogos Mortais e Sobrenatural) o que temos é uma construção de suspense e terror de maneira exímia, que consegue utilizar os elementos narrativos para dar ainda mais tensão às cenas propostas.
O diretor escolhe brincar com a câmera de diferentes modos, opta por planos longos para nos fazer pensar que o Homem Invisível esteja num determinado local e isso se une a percepção da protagonista, trazendo o espectador ainda mais próximo da história.
Assim, usando da inventividade, as situações onde acontecem confrontos são executadas com assertividade, mesclando efeitos visuais digitais e práticos, para nos dar a percepção de que se está lutando contra algo que não se pode enxergar. Para isso, a fotografia faz um papel essencial, tornando ambientes claros assustadores, pois o perigo pode estar em qualquer canto daquela sela, e quando o plano abre, tornando o ambiente ainda maior é aí que a produção encontra o jeito certo de contar essa história.
A construção do suspense é gradativa, de pequenos fatos como ir buscar cartas de correio, até mesmo uma reunião com advogados se torna um momento incômodo e angustiante, preparando espaço para um clímax que certamente fará que com muitos fiquem surpresos. Mais um acerto em meio a tantas outras obras que não se empanham em capturar o espectador.
E parte disso se deve a protagonista, interpretada por Elisabeth Moss.
Sua Cecilia é vulnerável, inocente, porém encontra forças para continuar sua jornada de onde as pessoas menos esperam e deste modo, a atriz usa o texto a seu favor, mudando as expressões, o tom de voz, indo das lágrimas ao sadismo, fundamentando ainda mais a relevância dos acontecimentos para construção daquela persona.

Ele disse que aonde quer que eu fosse, ele me encontraria, viria até mim, e eu não iria vê-lo.

A construção da narrativa conta como e o que Cecilia passava nas mãos do seu ex abusivo.
O interessante aqui não é o foco nas ações agressivas, mas em suas consequências diretas e indiretas na vida da jovem. O medo, a ansiedade, as crises, há um turbilhão de sentimentos que envolvem o pós fuga e ainda permeiam a jornada da protagonista, mesmo sabendo que o seu agressor está morto. E quando tudo passa a se tornar uma trama cada vez mais complexa, onde não se pode ver quem está realizando cada vez mais maldades, o texto trata de trabalhar o quanto a vítima é muitas vezes ignorada ao relatar o que realmente acontece.
Essa alegoria da realidade está presente em diversas histórias, onde mulheres ao demonstrar o que ocorre, são silenciadas e taxadas de “loucas” pela sociedade (Aliás, nós homens precisamos aprender a retirar esse termo do vocabulário ao nos referirmos às mulheres).
O roteiro traça uma estrutura exímia dos relacionamentos abusivos: a vítima é diminuída como se não tivesse capacidades cognitivas, ocorre uma distorção da sua imagem, até mesmo por quem a ama e por fim, o quadro de vítima beneficia o ser abusivo, conduzindo a história a seu favor.
Cecilia passa por cada um desses momentos, indo ao limite, enfrentando o que não consegue ver, tendo perdas catastróficas e tentando comprovar sua sanidade em meio a tudo. Logo, ao adentrar o aspecto científico, a produção ganha ainda mais peso, pois não é necessário pausar nenhum momento para explicações, apenas demonstrar que aquilo é funcional e poderá servir como elemento derradeiro em um clímax que certamente arrancará um mórbido, porém satisfatório sorriso do público.
 
O Homem Invisível (2020) trabalha os acontecimentos da realidade, mesclado a um suspense bem executado e aspectos da ficção científica de maneira a tornar essa experiência uma das melhores do gênero no cinema.
Com uma direção que usa da história para criar soluções criativas dando um ritmo de ação coeso e coerência no texto, que mergulha em algo que permeia a sociedade há muito tempo, somos capturados por uma tensão gradativa e um clímax que consegue surpreender. Sem deixar de lado a brilhante interpretação de Elisabeth Moss.
E se para uma vítima de relacionamento abusivo é tão difícil comprovar que tudo aconteceu, principalmente quando a pessoa é influente ou possui um poder de persuasão muito grande, quem dirá quando não se pode avistar quem está lhe fazendo algum mal. Pois é necessário ir contra diversas convenções sociais, contra os traumas vivenciados e contra o próprio medo. A realidade é realmente mais assustadora, mas quando se vai o limite, encontra-se força para trazer à tona a verdade de maneira nítida!
Nota: 5/5 (F%DA PR# CAR@LH&)

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