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Fleabag: 1ª e 2ª Temporadas – Review

A vida em sua maneira sarcástica e direta

Quando a personagem de Phoebe Waller-Bridge olha pela última vez para a câmera, fazendo um sinal com as mãos pedindo para que o espectador, de certa forma, fique onde está, percebemos que aquela história está chegando ao fim.
Ao mesmo tempo, essa despedida nos deixa com lições importantes, sobre a vida, o que esperamos dela e das pessoas a nossa volta; sobre sexualidade, fé, mas acima de tudo, sobre a capacidade do ser humano de se encontrar, mesmo que pense o contrário! Contudo, antes que cheguemos ao desfecho dessa desventura, é necessário percorrer o que o dia a dia, as experiências e as escolhas dessa mulher são capazes de causar em sua própria vida e na de quem assiste!
E isso é quebrar a quarta parede de maneira inteligente!
Fleabag conta a história de uma jovem adulta que precisa lidar com a perda da mãe e da melhor amiga, ao mesmo tempo que vivencia problemas financeiros, o novo relacionamento do pai, uma irmã controladora e diversos relacionamentos complicados que não levam a nada. Porém, tudo isso com aquele tom de humor sarcástico e direto das boas produções britânicas.
Phoebe Waller-Bridge escreve e produz a série que consegue extrapolar a interação com o espectador, a ponto de criar situações com identificação imediata!
A câmera escolhida sempre acompanha os passos da protagonista de maneira onipresente, como um olhar de quem está atento as próximas ações e por isso, ao entrar por ambientes, ou simplesmente ficar parada, temos a percepção de que estamos vivenciando as situações junto da personagem principal. E para que isso ganhe ainda mais força, a quebra da quarta parede é usada de forma constante, mas nada exagerada. Os olhares para direção da câmera, as falas direcionadas ou os gestos expressam a intenção da produção trazer o público para perto, para dentro daquele mundo onde tudo é familiar. Essa familiaridade ultrapassa a superfície das desventuras que ocorrem, trazendo uma carga dramática e cômica num tom que consegue cativar o público de uma maneira geral.
E muito desse trabalho se dá ao texto de Fleabag!
O fato de ir além do comum das séries de comédia se encontra uma narrativa certeira quando se trata de apresentar situações do cotidiano de uma maneira sarcástica, direta e repleta de absurdos palpáveis! Esses elementos servem como encaixe para que venhamos a conhecer ainda mais da personalidade da protagonista, que aos poucos vai ganhando novas camadas, além de enfatizar aquelas que já temos conhecido. Se ela precisa vivenciar a tristeza, de uma maneira dramática anda pelas ruas, chorando, esperando encontrar uma resposta. Se há um desejo sexual imenso, nada mais justo que flertar no ônibus ou se aprontar na madrugada para esperar aquele contato. E quando é necessário encontrar a família para um simples jantar, nada a prepara para os momentos constrangedores, irritantes e imprevisíveis que estão por vir.
Para que tudo isso se fundamente dentro do roteiro, não há medo de falar sobre a vida sexual da mulher, suas escolhas, as formas que sente prazer, suas frustrações com a carreira e os temores do que pode vir acontecer quando se apaixona pela pessoa indevida. Neste ponto, Fleabag é um verdadeiro retrato de uma geração. Aquele de melhor qualidade e expressividade.
Os conflitos diários apresentados durante os seis episódios de cada temporada são uma forma de expor a fragilidade da vida adulta, a forma como as escolhas precisam ser feitas em sua maioria para agradar quem está ao redor, o quanto não se dá chance para vivenciar as perdas e como amar o outro está principalmente relacionado ao fato de você se colocar em primeiro lugar, escolhendo o que te faz feliz, mesmo que para isso tenha que terminar um relacionamento de anos, casar ou simplesmente, não mais querer ter um caso com alguém que possui um chamado divino. Ademais, a série atinge criticamente a sociedade, da maneira como as mulheres são tratadas, como são vistas, mas principalmente o quanto ao escolher ser livre de rótulos, pode causar uma certa estranheza por parte de quem ainda espera sempre uma normatividade nas ações. Por isso, a cada novo momento, a protagonista quebra os paradigmas, as expectativas alheias, demonstrando que sua história, por mais que existam dúvidas em algumas áreas, ainda continua sendo sua!
Fleabag é a expressão do quanto a vida é sarcástica e direta, às vezes de uma maneira engraçada, em outros momentos cruel e assustadora. Com elementos técnicos que são usados para dar ainda mais ênfase ao bom texto, e interpretação de Phoebe Waller-Bridge, a produção se torna uma das melhores séries cômicas com traços de dramas dos últimos anos. Além de possuir um roteiro inteligente, divertido e envolvente a cada novo episódio.
A maneira como a situações do cotidiano se apresentam nos fazem as vezes querer olhar para um lado, para frente, e apenas dizer o que estamos pensando, sentindo, desejando, como num ato de colocar pra fora aquilo que muitos querem que venhamos manter em oculto. E por mais que o sexo esteja presente na vida, o trabalho esteja dando certo e o amor acabe não sendo correspondido, Fleabag nos lembra que quando quisermos, podemos acenar pedindo por ajuda, cumprimentando, ou simplesmente sinalizando para que tudo a nossa volta fique onde está, pois essa história continua da maneira que nós quisermos, onde acharmos melhor, com ou sem plateia.
Nem que para isso você deixe de lado a grande paixão de sua jornada, abra um café com uma temática inusitada e tenha a convicção de que ninguém é tão importante quanto você mesmo! E isso é quebrar a quarta parede do jeito mais familiar possível!

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